domingo, 15 de fevereiro de 2009

"A Televisão", de Jean-Philippe Toussaint, SP, Ed. 43, 1999.

... as chances que se tem de desenvolver um projeto até o fim são inversamente proporcionais ao tempo que dedicamos a falar sobre ele antes de realizá-lo. Pela simples razão (parecia-me) de que se já nos encontramos saciados de todos os prazeres potenciais de um projeto nas etapas precedentes à sua realização, apenas restaria no momento de realizá-lo a dor inerente à criação, ao fardo, ao labor.

....que parecia agora dedicar cada vez mais tempo e energia comentando suas ações do que realizando-as.

Porque a essência dolorosa da falta não reside no sofrimento presente - a falta é indolor na escala do instante - , mas na perspectiva do sofrimento, na riqueza do futuro que se pode imaginar para ela. O insuportável, então, na falta, é a permanência, é o horizonte vazio que ela deixa aberto diante de si, é saber que ela irá permanecer tanto tempo quanto se possa imaginar. O que quer que façamos, estamos de agora em diante permanentemente em confronto com um adversário sobre o qual não temos qualquer influência, porque a falta, por natureza, furta-se ao combate e adia-o ao infinito, impedindo-nos de nos livrarmos de vez das tensões que acumulamos em vão, na tentativa de vencê-la.

... lasciva e principesca na cama coberta por uma desordem de papéis e cartas, cadernos e fichários, uma xícara de chá e papéis de embrulho de cookies, forminhas drapeadas que se espalhavam ao redor dela sobre os lençóis, como nenúfares abertos num lago de águas agitadas.


A Televisão, de Jean-Philippe Toussaint, SP, Ed. 43, 1999.

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